Ano após ano, na Workana, temos produzido um relatório sobre o estado atual do trabalho remoto e freelance. Embora as tendências já apontassem claramente para uma evolução nos modelos e estruturas de trabalho, em 2020, o trabalho remoto se tornou uma realidade generalizada também para os trabalhadores CLT. Portanto, nesta quinta edição, tivemos que colocar boa parte do foco em analisar como os empregados e as empresas empregadoras estão vivendo esta nova realidade.
Se algo ficou evidente é que, independentemente do progresso da contingência sanitária, as companhias e organizações que queiram continuar atraindo o talento mais competitivo deverão atravessar mudanças estruturais muito profundas, pois o trabalho remoto deixou de ser “um benefício extra” para se transformar no novo estilo de vida desejado por muitos profissionais assalariados.
Sem dúvidas, enfrentamos um panorama cheio de incertezas, mas também de oportunidades únicas para que a relação entre trabalho, empresa e trabalhador evolua. Se em anos anteriores lutávamos para dar mais visibilidade às vantagens do trabalho remoto, a partir de 2020, tudo mudou rapidamente do “quê” e do “por quê” para o “como”.
Qual é o panorama do trabalho remoto nas empresas?
Em anos anteriores, enfrentávamos todo tipo de reticências por parte das companhias para adotar o trabalho remoto. “Não estamos prontos”, “estamos preocupados com a produtividade” e “não queremos perder o controle” eram os argumentos mais frequentes que escutávamos.
Felizmente, ficou demonstrado que estas preocupações eram um tanto pessimistas e exageradas, já que, em questão de dias, o trabalho remoto pode ser implementado. Só foi preciso atitude (e boa conectividade).
A pergunta já não é “podemos realizar o trabalho remoto?”, e sim “como vai ser? Vamos voltar correndo para os escritórios quando a contingência ficar no passado? Ou vamos aproveitar esta crise global para fazer uma mudança positiva em nossa forma de trabalhar? Como manter essa mudança ao longo do tempo?”
Na análise dos dados de nosso relatório 2020, pudemos identificar onze pontos chave que marcarão a inércia do trabalho remoto nesta “nova normalidade”.
Aspectos gerais sobre o trabalho remoto: 11 pontos pós-pandemia segundo os líderes de empresas
1- Muitas reuniões ou eventos importantes serão realizados online
O primeiro e mais importante é continuar evitando as grandes concentrações de pessoas. Por isso, muitas das atividades que realizávamos em espaços físicos, de maneira presencial, vão migrar para um formato digital. 36% opinam que melhorar a tecnologia e conectividade será prioritário para melhorar o trabalho remoto.
Está é uma “herança da pandemia” que demonstrou ser muito eficiente pela praticidade, simplicidade, alcance e impacto. Por isto, o mais provável é que se torne uma prática adquirida.
2- Pessoas serão contratadas sem importar onde vivem
Se uma coisa ficou clara é que podemos ser produtivos independente de onde estivermos. Por que, então, continuar limitando as buscas de trabalho a determinadas áreas geográficas se estamos buscando o melhor talento? 16% dos líderes das empresas opinam que a diversificação geográfica do talento será uma das consequências mais marcantes do trabalho remoto pós-pandemia.
3- Não haverá mais escritório ou os espaços fixos de trabalho vão diminuir
24% das empresas entrevistadas opinam que uma das repercussões mais importantes desta nova forma de trabalhar é que escritórios serão fechados ou terão espaços de trabalho presencial menores.
4- As viagens de trabalho serão reduzidas
Aproximadamente 13% das empresas considera que a diminuição nas viagens e na mobilidade será um fator determinante em sua nova normalidade.
5- Aparecerão novas alternativas de contratação e diferentes modalidades de trabalho
19% das empresas estão de acordo que a mudança na forma de trabalhar e buscar talento será uma prioridade para poder se adaptar à nova realidade. Isto significa começar a procurar um talento mais diverso e deixar de limitar-nos a uma zona geográfica ou um esquema de trabalho em particular. Claramente, a tendência aponta a uma contratação cada vez maior de freelancers e profissionais independentes.
6- Os espaços de home office estarão muito mais equipados e a empresa deverá contribuir para que assim seja
Aproximadamente 28,5% das empresas afirmam ter oferecido o equipamento adequado para que seus funcionários pudessem trabalhar em casa. Aqui observamos um claro contraste, já que apenas 14,6% dos funcionários afirmam que isto realmente ocorreu.
Neste mesmo sentido, 4% das empresas indicam ter fomentado uma melhor estrutura de trabalho remoto. Mas novamente, de acordo com a percepção dos trabalhadores, esta cifra é muito menor (1.3%). 5,3% das marcas empregadoras declarou ter oferecido cursos ou capacitações para o home office e 14% opina que será preciso implementá-los no futuro.
Por outro lado, os trabalhadores relataram que as principais desvantagens do trabalho remoto estão relacionadas com a falta de comodidade de fazer home office sem os equipamento ou o espaço adequados. E 7% das empresas ressaltaram a importância de melhorar os equipamentos e servidores com os quais os seus empregados contam.
Este é um dos pontos mais relevantes do relatório, pois, embora as empresas parecem estar entendendo a necessidade de fornecer melhores ferramentas, também fica claro que os trabalhadores ainda não se sentem totalmente amparados neste sentido.
7- O trabalho será mais ágil e organizado com base em objetivos
De acordo com quase 40% dos empregados e 29% das empresas, agilizar os processos e orientá-los ao trabalho por objetivos será fundamental. Porém, apenas 20% das companhias relataram já terem alcançado essa flexibilidade. De acordo com 31% das empresas, o maior desafio a ser enfrentado será manter a produtividade.
8- Os líderes deverão ser capazes de acompanhar equipes remotas
22,8% das empresas opinam que o mais importante é que seus líderes aprendam a gerenciar equipes remotas. 13,8% dispuseram canais de comunicação direta com os gestores e diretores, e 7% consideram que um dos seus maiores desafios será treinar seu pessoal estratégico em habilidades de gestão remota.
9- A cultura corporativa deverá ser capaz de ir além da tela dos empregados para mantê-los motivados
17,5% das empresas consideram que é necessário revisar a cultura organizacional, os planos de benefícios e prestações atuais para que se adaptem ao trabalho remoto. No entanto, menos de 2% já realizou algum tipo de modificação.
10- As empresas deverão se preocupar mais com a saúde física e mental de seus empregados
Como a pessoa passa a estar no centro do trabalho, a preocupação com seu bem-estar é um recurso indispensável. 43,7% dos empregados entrevistados relataram ter experimentado emoções negativas, como a ansiedade, durante a pandemia. 10,5% das empresas consideram que é necessário oferecer alternativas de saúde física e emocional relacionadas com os desafios do trabalho remoto. 14% considera que é especialmente importante orientar as soluções aos pais e mães de família. No momento, apenas 5% das empresas ofereceram ativamente assistências psicológicas e outras estratégias.
11- A empresa precisará ter uma comunicação mais transparente
A aprendizagem final deste tempo remoto na pandemia é que atravessar este contexto só foi/é possível à medida que se habilitem canais de contato. Mesmo assim, ainda há muito que avançar neste sentido, pois 9% das empresas consideram que devem trabalhar mais para que a comunicação interna com os empregados seja mais fluida e clara.
Então, quais habilidades e estratégias serão necessárias para o trabalho remoto no futuro de parte dos profissionais e empresas?
Atualmente, as estatísticas indicam que 54% dos freelancers full time não voltariam a trabalhar em um esquema tradicional. Talvez, o mesmo aconteça com muitos trabalhadores CLT, que desejarão adotar o trabalho remoto e transformá-lo em um estilo de vida.
A possibilidade de fazer home office é algo que 97% do talento já considera importante na hora de selecionar um trabalho. 94% dos profissionais que começaram a trabalhar de casa durante a pandemia gostariam de continuar assim.
Habilidades que os profissionais devem aprimorar segundo eles mesmos
- Melhor organização e distribuição de tarefas (27,9%)
- Adaptabilidade e resiliência (20,5%)
- Aprender a trabalhar com mais autonomia e liberdade, longe de um ambiente de trabalho (15,6%)
- Sentido de prioridade (15,6%)
- Proatividade (9%)
- Nenhuma (11,4%)
Habilidades e atitudes que os líderes de empresas planejam aprimorar
- Promover o trabalho remoto depois da pandemia (82,4%)
- Flexibilidade e trabalho por objetivos (35,2%)
- Pensamento ágil focado em soluções (19%)
- Liberdade e autonomia, chefes que são líderes (17%)
- Rápida adaptação às mudanças (16,9%)
- Comunicação mais transparente e objetivos alinhados (16,4%)
- Líderes capazes de acompanhar equipes remotas (14%)
Conclusões: o trabalho remoto chegou para ficar e requer uma transformação estrutural
Talvez, antes de 2020, pensássemos que não estávamos prontos para o trabalho remoto generalizado. Porém, uma vez mais, a vida está progredindo e nós já demonstramos que podemos abrir novos caminhos ao sermos capazes de nos adaptar em tempo recorde e de maneira global.
Mesmo assim, ainda existe uma distância importante entre a percepção das empresas e dos profissionais. Diminuir essa distância e tornar o trabalho remoto a opção principal (e não um benefício ou uma solução de emergência) são desafios que deveremos enfrentar no trabalho à distância pós-pandemia, acompanhando este processo com uma robusta estratégia empresarial.
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