A Força de Trabalho Alternativa ganha força e marca um novo rumo

Vista inicialmente como um recurso excepcional para “preencher lacunas”, a força de trabalho alternativa está se tornando vital para o futuro do trabalho.

Ao longo dos anos, esse conjunto de talentos formou uma comunidade que arrecadou, em todo o mundo, um montante de 4,5 trilhões de dólares apenas em 2018, conforme apontam as estatísticas da Staffing Industry Analysts (SIA).

Dentro dessa comunidade, encontramos uma grande variedade de profissionais que realizam diversas tarefas dentro de diferentes esquemas de trabalho:

  • Equipes terceirizadas
  • Freelancers (geralmente pagos por hora)
  • Contratados (pagos por pacotes de serviço)
  • Trabalhadores GIG
  • Redes terceirizadas – também referenciadas como “crowd”

Uma pesquisa recente realizada entre executivos e conduzida pela Deloitte, Human Capital Trends, (Tendências do Capital Humano) destacou que 33% dos entrevistados recorreram a alternativas de talentos segmentados por TI (33%), Operacional (25%), Marketing (15%) e Tarefas Financeiras (13%).

Entre os países de maior destaque, os Estados Unidos lideram a tendência e se calcula que, até 2020, aproximadamente 42 milhões de pessoas que vivem nesse país optarão por modalidades de trabalho alternativas. O boom de freelancers na União Europeia, entre 2000 e 2014, duplicou o número de profissionais que fazem parte dessa comunidade.

Além disso, uma pesquisa da Deloitte intitulada Deloitte’s 2018 Millennial Survey (Pesquisa Deloitte sobre os Millennials 2018) revelou que 64% das pessoas que trabalham em tempo integral estão realizando trabalhos como freelancer para obter uma renda extra.

Flexibilidade e Engajamento

Porém, a realidade dessas modalidades de trabalho alternativas nem sempre parece ser um mar de rosas. Uma pesquisa realizada pela Gallup em 2018, The Gig Economy and Alternative Work Arrangements, (A Gig Economy e a Formação de Trabalhos Alternativos) revelou uma clara distinção entre:

  • Freelancers: que formam a “Human Clound” e participam de plataformas digitais
  • Trabalhadores temporários: aqui se incluem todas as pessoas que são contratadas por tempo limitado para realizar serviços pontuais e/ou cobrir emergências, plantões, férias de funcionários fixos ou atender a alta demanda em datas especiais.

De acordo com a Gallup, os freelancers desfrutam de maior autonomia e flexibilidade do que os funcionários fixos que trabalham em tempo integral. Exatamente por isso, tendem a ser mais engajados e comprometidos com os projetos nos quais participam. Porém, essa situação é completamente diferente no caso dos trabalhadores temporários, que infelizmente não contam com essas vantagens e benefícios do trabalho remoto.

Portanto, podemos perceber uma relação inversamente proporcional entre essas variáveis: quanto menor a flexibilidade e a autonomia, maior a falta de engajamento no trabalho.

Motivações por trás do boom da força de trabalho alternativa

Os millenials e a geração Z representam metade da força de trabalho alternativa no mundo inteiro. Mas quais são as motivações e os objetivos que levam os jovens a optar pelas modalidades alternativas? E o que eles pensam sobre os ambientes e esquemas de trabalho tradicionais?

A pesquisa da Deloitte também destaca alguns motivos pelos quais os jovens escolhem fazer parte da força de trabalho alternativa:

  • Sensação de insegurança derivada do atual cenário sociopolítico e econômico, que os impede de apostar todas as fichas em um único emprego.
  • Percepção negativa sobre o ambiente de trabalho que valoriza o lucro acima de tudo.
  • Desconexão ou falta de identificação com o trabalho, principalmente quando a ética dos negócios não corresponde aos objetivos e necessidades da sociedade, ou quando a declaração formal dos valores da empresa não é compatível com os comportamentos observados no dia a dia de trabalho.
  • A lealdade, dentro de um ambiente de trabalho, não se constrói, nem se nutre apenas com bons salários. Flexibilidade, diversidade, inclusão e uma boa motivação são fatores igualmente importantes!
  • As habilidades que os jovens mais valorizam e esperam encontrar em seus líderes são: ética, inovação, criatividade, inteligência emocional, coaching e a capacidade de estimular o desenvolvimento dos talentos e nutrir o potencial de cada membro da equipe.

A insatisfação com a cultura dos ambientes de trabalho tradicionais acaba sendo um motor que promove a crescente participação dos millenials e da geração Z na Economia GIG. Atualmente, 43% dos millennials afirmam que pretendem deixar seus empregos em um prazo de até dois anos.

Do outro lado, um dos maiores desafios que as organizações estão enfrentando é conseguir atrair e reter talentos. Principalmente sabendo que cada vez existem mais modelos alternativos que oferecem uma melhor experiência de trabalho aos profissionais.

Ao mesmo tempo, a redução da reserva de talentos disponível e a escassez de habilidades críticas geram inconvenientes na hora de encontrar um profissional qualificado. De acordo com a Deloitte, 45% das grandes empresas contratantes estão tendo dificuldades para preencher vagas abertas; e esse percentual é ainda mais elevado no caso das pequenas e médias empresas (67%).

Além disso, os trabalhadores experientes de idade mais avançada estão se aposentando mais cedo e optam por se reintroduzir no mercado de trabalho como freelancers. De fato, continua crescendo a quantidade de profissionais que migram ao trabalho remoto para poder cuidar dos seus filhos ou dos seus pais.

Resumindo, o cenário atual mostra que as organizações precisam se tornar mais flexíveis para conseguir capitalizar a força alternativa estrategicamente, ao invés de considerá-la somente para atender necessidades ocasionais. Atualmente, as mentes “mais abertas” já confiam na força de trabalho alternativa quando percebem que não é possível redistribuir o talento interno ou se deparam com uma escassa disponibilidade de candidatos para preencher vagas abertas.

Um novo paradigma para o pensamento ágil 

No mundo dos negócios, o conceito de agilidade se refere à capacidade de uma organização de responder rapidamente aos critérios de inovação, utilizando todos os processos, a infraestrutura e as habilidades necessárias.

Como vivemos em tempos de constante transformação, a flexibilidade ganhou grande protagonismo entre as chamadas soft skills. E, consequentemente, a agilidade já não é vista apenas como uma metodologia de trabalho, mas também como um esquema mental que permite desenvolver novas formas de pensamento, nas quais a diversidade aparece como um fator determinante para o sucesso.

O fato é que a necessidade de eliminar brechas em suas equipes e contar com as habilidades fundamentais para enfrentar as transformações tecnológicas que já estão ocorrendo e as que ainda estão por vir, “obriga” as empresas a repensar o antigo conceito de agilidade. Neste aspecto, a Gallup traz alguns pontos fundamentais para conseguir trabalhar em equipe com profissionais independentes:

Necessidades motivacionais e psicológicas:

Para inspirar trabalhadores independentes, primeiro, é preciso entender quais são suas necessidades e motivações pessoais. Elas podem ser bem diferentes dos objetivos de um funcionário fixo e, por isso, requerem uma abordagem gerencial especial.

Por exemplo, imaginemos que estamos liderando uma equipe de programadores freelancers altamente qualificados, mas que só costumam trabalhar durante as noites. Neste caso:

  • Podemos ser mais flexíveis e estabelecer uma faixa horária comum para compartilhar atualizações e problemas?
  • Ou devemos descartar esses profissionais brilhantes de TI porque eles não seguem nossos horários pré-estabelecidos? 

Engajamento da Equipe/Integração:

Não podemos esquecer que, geralmente, os talentos independentes possuem vínculos limitados com as organizações para as quais prestam serviço. Por isso, seus gestores e líderes deveriam se fazer a seguinte pergunta: Como promover uma melhor integração entre os trabalhadores alternativos e os membros da minha equipe fixa? 

Uma boa dica é compartilhar os perfis/habilidades deste trabalhador contratado para, desta forma, criar um ambiente mais amigável à chegada deste novo recurso. Além de propor expectativas razoáveis e conscientes, as quais gerem um sentimento de confiança em toda a equipe.

Caso tenhamos membros da equipe trabalhando em diferentes fusos horários, podemos utilizar várias ferramentas para “diminuir” a distância. O Slack, por exemplo, é excelente para disponibilizar um canal de comunicação entre a equipe e tornar possível acompanhar os problemas do dia-a-dia e trocar informações para aumentar a produtividade de todos.

Porém, será essencial prestar muita atenção ao estilo de comunicação de cada profissional: comunica-se de forma constante ou escassa? Seu comportamento parece silencioso ou hostil na hora de interagir?  Lembre-se que a forma de se expressar de uma pessoa pode revelar muito sobre como ela percebe os outros integrantes da equipe.

Integração:

Os gestores devem assumir a grande responsabilidade de transmitir a cultura organizacional, os valores e as expectativas de maneira clara, significativa e objetiva. Quais ferramentas podemos usar para gerar um melhor impacto e aportar maior relevância a essa declaração de valores?

Em primeiro lugar, precisamos acreditar honestamente nesses valores. E em segundo, devemos fazer com que nossos colegas e colaboradores lembrem qual é objetivo final do trabalho realizado em equipe.

  • Por que estamos trabalhando nisso?
  • Como minha contribuição impacta no trabalho como um todo?

Mostrar estes valores é essencial para manter as equipes motivadas. Afinal de contas, é a finalidade que dignifica e humaniza as tarefas que realizamos no nosso dia a dia.

Planejamento:

Os gestores que trabalham em equipe com colaboradores independentes precisam manter uma comunicação fluida e dispor de documentos confiáveis para orientar suas decisões durante o desenvolvimento dos projetos. Para isso, a melhor opção seria realizar reuniões presenciais.

Porém, se isso não é possível, a tecnologia traz inúmeras ferramentas baseadas na nuvem para diminuir a distância. Desde reuniões virtuais, como Zoom ou ambientes de colaboração, como Asana ou Trello.

Métricas de Performance

Para ter sucesso trabalhando com colaboradores remotos, também é vital estabelecer métodos eficazes de avaliação. O acompanhamento do processo de trabalho e a análise periódica de desempenho serão nossos grandes aliados para saber se contamos ou não com os melhores talentos.

Experiência do Funcionário

Que experiência estamos oferecendo aos nossos trabalhadores independentes? Como podemos otimizar o progresso dos talentos externos? Que recursos podemos usar para “verificar o pulso” de nossos trabalhadores alternativos?

Nesse sentido, Ben Whitter, fundador do World Employee Experience Institute no Reino Unido, destaca o quão essencial é “considerar fatores humanos e tecnologia juntos, sendo um reflexo do outro“. Portanto, um bom critério para validar a implantação de qualquer solução ou ferramenta está relacionado a responder as seguintes perguntas:

  • Isso torna a conexão entre as pessoas mais profunda? 
  • Ajuda a melhorar ou aprimorar os relacionamentos?

Essas são perguntas particularmente importantes quando trabalhamos com colegas de equipe que possuem vínculos ou acessos limitados dentro da organização.

Pensamento Estratégico

A força de trabalho alternativa oferece excelentes oportunidades para organizações que precisam lidar com mercados altamente competitivos e cuja demanda de habilidades muda constantemente. Nesses casos, uma estratégia bem definida permitirá aproveitar ao máximo os talentos dos colaboradores externos e obter melhores resultados.

Em primeiro lugar, os líderes dessas organizações devem analisar quais posições e tarefas são as mais adequadas a serem delegadas a trabalhadores GIG, e quais ainda apresentam pontos críticos relacionados a questões operacionais, informáticas ou ao branding.

Outro aspecto crucial que precisamos considerar é a percepção dos funcionários sobre os colaboradores externos. A chegada de novos membros pode causar certas preocupações e até certos temores na equipe fixa. Algumas perguntas frequentes são:

  • Como esse “freelancer intruso” impactará no meu desempenho profissional?
  • Será que a empresa pretende substituir a força de trabalho atual? 

Ao invés de ignorar ou subestimar esse tipo de especulações, devemos abordá-las e esclarecê-las de forma transparente, direta e objetiva. Desta forma, evitamos que se transformem em conversas de corredor que só servem para disseminar insegurança e desconfiança entre as equipes de trabalho.

Como engajar, desenvolver e promover os talentos que podem estar trabalhando para a concorrência também deve ser um tema de debate e planejamento. É essencial criar processos de integração e formação de equipes (team building) adequados. E isso requer conhecer melhor as necessidades dos nossos parceiros terceirizados para, desta forma, poder fornecer a melhor experiência de trabalho possível. Além disso, compartilhar nossas metas, oferecer e solicitar feedback são iniciativas indispensáveis para proporcionar vivências positivas e repletas de significado a todos os colaboradores.

Ao mesmo tempo, se torna cada vez mais importante desenvolver uma boa liderança de equipes. A capacidade de orientar, motivar e apoiar grupos de trabalho com diferentes origens, bagagens culturais e necessidades será o grande diferencial na hora de superar os desafios propostos pelo futuro do trabalho.

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