Entrevista com Juan Martitegui, Fundador do Mindvalley Hispano

Gerenciar equipes virtuais tem suas particularidades. E Juan Martitegui sabe muito bem! O jovem empreendedor de 33 anos, fundador do Mindvalley Hispano, lidera uma equipe de 20 colaboradores freelance por todo o mundo.

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Depois de ter trabalhado para diferentes multinacionais e morar quatro anos na Malásia, graças a uma oportunidade de trabalho que se apresentou naquele momento, começou sua carreira ascendente como empreendedor. Hoje, à frente de sua própria empresa, estabelece as bases “para que as pessoas que falam espanhol contem com melhores informações disponíveis para alcançar seus objetivos”, como se entende pela missão da empresa.

Nas palavras de Juan, “no Mindvalley Hispano, difundimos ideias brilhantes. Nos definimos como uma editora online: se encontramos autores que têm uma ideia que pode fazer do mundo um lugar melhor, tratamos de difundi-la através da internet e ajudamos que alcancem mais pessoas”. Uma editora, sim, mas em vez de publicar livros, publicam cursos em formato multimídia (ebooks, áudiocursos, vídeocursos e interações em seminários ao vivo, entre outros formatos).

Nessa entrevista imperdível, ele nos conta quais são as chaves para selecionar seus colaboradores freelance, como alinha o trabalho de sua equipe no dia-a-dia e como vê o mercado de trabalho remoto.

W: Quantos empregados o Mindvalley Hispano atualmente tem e qual porcentagem deles trabalha remotamente como freelancer (e em que áreas)?

J: Atualmente, lidero uma equipe de 20 colaboradores freelance permanentes, com quem já trabalhamos há vários anos, o que nos permite dizer que 100% da empresa “teletrabalha” a maior parte do tempo. Mas, além disso, há dois meses, começamos a montar um escritório e, uma vez na semana, 4 ou 5 (dos que vivem em Buenos Aires) se reúnem para repassar alguns temas e manter a coesão da equipe. A maioria trabalha com Wow Team e Call Center, mas também temos Social Media Managers, Traffic Buyers, Affiliate Managers, Gestores de Conteúdo e Project Managers. Além dessa equipe permanente, também temos outros 8 ou 10 colaboradores freelance que vamos contratando conforme surge a demanda.

W: Quais qualidades uma pessoa precisa ter para trabalhar de maneira remota?

J: Creio que a chave é hipercomunicar: isso significa ser muito mais do que um bom comunicador. Implica ser responsável, não só por emitir claramente a mensagem, mas também por garantir que a contraparte a receba como deve ser. A segunda chave é perguntar: se há algum detalhe que não entendeu, deve perguntar. Do contrário, o profissional pode acabar trabalhando a semana toda em uma tarefa incorreta. A terceira dica é selecionar uma pessoa que demonstre proatividade; ela deve ir muito mais além do que se pediu. A automotivação também é de suma importância, porque no dia-a-dia é inviável parabenizar cada uma de suas conquistas, de modo que contar com pessoas motivadas e entusiastas é fundamental. A honestidade também é um filtro para nós, porque, quando se quebra a confiança, é muito difícil reconstruí-la. E, como chave de ouro, deve ser divertido! Sempre buscamos trabalhar com pessoas com quem seja divertido e interessante trabalhar.

W: Conte-nos sobre o processo de seleção dos profissionais. Quais foram as etapas do processo e o que você considera essencial levar em conta?

J: Sempre tratamos de testar os profissionais em pequenos projetos. Temos como base um processo de entrevista chamado Topgrading (ou ao menos tratamos de seguir ao máximo esse processo, porque traz ótimos resultados); em geral, experimentamos cada um em um mini-projeto. Muitos dos profissionais que hoje trabalham conosco em tempo integral começaram com uma carga menor ou fazendo estágio.

W: Como vocês dão prosseguimento ao trabalho do dia-a-dia com esses profissionais?

J: Usamos metodologias ágeis para tudo. Nos baseamos em metodologias conhecidas de desenvolvimento de software e as aplicamos ao Project Management de outras áreas. Temos Daily Scrums, que são reuniões breves, de 15 minutos, para repassar números e nosso desempenho. Basicamente, respondemos três perguntas: o que foi feito desde a última reunião? O que vou fazer de agora até a próxima reunião? Em que estou travado? Além disso, temos um planejamento semanal, o Weekly Sprint, para estabelecer o que vamos fazer na semana, e um review mensual, no qual vemos como nos saímos e – novamente – fazemos três perguntas: o que deveríamos deixar de fazer? o que deveríamos começar a fazer que não estamos fazendo ainda? e o que continuar fazendo que já está funcionando bem? Combinado a essa metodologia, usamos o Asana como suporte tecnológico para gestão de projetos e administração de tarefas e o Hipchat como ferramenta de chat.

W: No caso do Mindvalley Hispano, essa modalidade de trabalho foi pensada como estratégia de negócio ou surgiu de maneira espontânea?

J: A verdade é que, no início, começamos à força. Comecei a montar o Mindvalley Hispano morando na Malásia e sem muita gente que falasse espanhol naqueles lugares. Foi nesse momento que descobri o mundo dos freelancers. Começamos a contratar de forma remota e, depois, nos apaixonamos pelo modelo. Adoramos tudo o que ele significa, tanto para a empresa quanto para os profissionais contratados. Hoje, é a nossa forma natural de contratar. Além disso, acho que se encontrar de vez em quando também ajuda muito. Considero também que, hoje, é uma vantagem competitiva ter uma organização que possa se adaptar ao trabalho virtual e contratar os melhores talentos.

W: Na sua opinião, quais são os principais benefícios de terceirizar tarefas ou contar com recursos que trabalhem remotamente?

J: Basicamente, vejo 4 grandes vantagens: 1) Você contrata o “melhor” profissional, e não o que está mais perto de você. 2) Contratar de maneira remota significa ter uma ferramenta de retenção incrível, porque você está dando ao profissional a possibilidade de trabalhar de casa. 3) É um modelo que se adapta super bem aos profissionais da geração Y, mais ainda do que trazê-los ao escritório de terno. 4) Em geral, você contrata pessoas mais “emprendedoras”, que buscam agregar valor ao cliente, deixá-lo satisfeito e prestar um serviço incrível, para que você volte a contratá-lo. Acho isso fantástico.

Para poder montar uma equipe virtual sólida, acho essencial construir sobre a base da confiança: se eu assumo que tenho que estar controlando cada um para ver o que estão fazendo ou deixando de fazer, fica impossível ser produtivo.

W: E por que trabalhar com freelancers permanentes?

J: A vantagem é justamente essa: você tem um profissional que trata você como cliente, e não empregador. Ele tem sua empresa individual e a relação é completamente diferente: é de igual pra igual, não de chefe pra empregado. O profissional busca agregar mais valor, propõe sugestões e novas ideias e busca fidelizar você como cliente. E a relação, sem dúvidas, é diferente quando encarada por esse ângulo.

W: Qual o seu conselho para aquelas empresas que estão avaliando a possibilidade de contratar profissionais à distância?

J: Comecem agora! Contar com equipes virtuais e saber gerenciá-las vão se transformar em vantagens competitivas. Se você não começar agora mesmo, vai acontecer como aconteceu com outros exemplos de ferramentas ou modelos de adoção massica (ninguém tinha Facebook até que todos estivessem no Facebook, por exemplo). A mudança vai ser tão do dia pra noite que você não conseguirá se adaptar. Comecem agora, experimentando! Tomem como uma prática: é uma habilidade nova, para todos. Meu conselho é que você comece já, brincando, praticando e experimentando. Porque aprender leva tempo! Além disso, é fundamental treinar suas equipes. E treinar a si mesmos como líderes de equipes virtuais, porque as habilidades que vocês deverão ter são completamente diferentes: vocês devem ser muito bons comunicadores, claros com relação ao que têm em mente. Quem consegue liderar uma equipe remota acaba sendo um líder muito melhor de equipes tradicionais ou presenciais também, do que o contrário. Acredito que, se não puderem dar à sua equipe a possibilidade de ter flexibilidade, vão perder a guerra do talento.

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Agradecemos pela entrevista, Juan! 🙂

Entrevista realizada por Jesica Mraz

Tradução e adaptação de Analuísa Bessa
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